Escrito por Truman Capote e publicado a primeira vez em 4 edições da revista americana The New Yorker, em 1965, este livro inaugura um estilo jornalístico cativante que nos permite saborear cada palavra e nos agarra desde a primeira à última página.

A descrição dos factos que rodearam o assassínio, o relato da vida dos 4 membros da pacata família Clutter, a forma como os corpos das vítimas foram tratados pelos assassinos, o percurso de vida dos assassinos e a sua detenção, tudo isto é relatado com pormenores como se tratasse de uma cerimónia, sem lamechices, sem explícitos juízos de valor, num verdadeiro relato jornalístico a roçar o estilo literário.

Se Capote dá especial destaque à família Clutter, às suas qualidades enquanto membros de uma pacífica comunidade do Kansas, ao respeito e admiração que recebiam dos seus conterrâneos, é clara a sua atracção pelos assassinos, especialmente por Perry Smith, o autor material do crime. Identifica-os como socialmente inadaptados, violentados pela família, diminuídos por todos aqueles que os rodearam.

É um suspense que na primeira página identifica as vítimas e os criminosos, restando o quê, pensamos nós, para desvendar? É aqui que, na minha opinião, reside a mestria de Capote, ao prender o leitor no porquê deste crime, nas razões que justificaram este acto, nos motivos que inspiraram estes homens a chacinar uma família que desconheciam.

Perry e Hikcock personificam a busca do ideal, eles procuram o bem estar material como forma de compensar todos os complexos e humilhações sofridos durante a sua vida e desiludidos por o não encontrarem resta-lhes, como escape, a culpabilização daquela família por todas as injustiças que receberam na vida.

In Cold Blood ou a verdadeira essência do ser humano, é a descoberta que a distância entre cada um de nós e os criminosos é mínima, é apenas um passo, a singela diferença entre o colocar o dedo no gatilho e o pressioná-lo.